O espaço do lazer, que já é restrito para a população de baixa renda, encolheu ainda mais com o distanciamento social exigido pela pandemia da Covid-19. Como resultado, mais sedentarismo. A maior permanência em casa com o fechamento das escolas, também dificultou o controle das refeições nas horas certas e estimulou o consumo de alimentos que contribuem para o aumento do peso. A avaliação é da endocrinopediatra do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (Cedeba), Renata Lago, sobre a maior dificuldade do controle da obesidade infantil na pandemia, problema que atinge crianças e adolescentes de todas as classes sociais, mas que é mais intenso nas populações mais pobres.
A obesidade infantil, segundo a especialista, afeta 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas na rede de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, e pode trazer consequências preocupantes ao longo da vida. Nessa faixa etária, 28% das crianças apresentam excesso de peso, um sinal de alerta para o risco de obesidade ainda na infância ou no futuro. Entre os menores de 5 anos, o índice de sobrepeso é de 14,8%, sendo que 7% já apresentam obesidade. Os dados são de 2019, baseados no Índice de Massa Corporal (IMC) de crianças que são atendidas na Atenção Primária à Saúde.
Em 2016, foi proclamada a Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição (2016 a 2025) e o Brasil lidera as ações, em conjunto com outros governos, para enfrentar os problemas decorrentes da má nutrição, principalmente para o excesso de peso em crianças menores de cinco anos de idade. E a má nutrição, que leva à obesidade, segundo analisou Renata Lago, exige mudanças socioculturais e econômicas. Isso passa pelo fomento à agricultura familiar, cultivo de hortas domésticas, que ainda é muito incipiente no Brasil. É preciso ensinar à criança a trocar o suco de caixinha pelo suco da fruta. Mas é preciso também a preparação para as mudanças. Citou como exemplo a determinação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) de comprar 30% dos produtos para merenda do produtor local, que não se torna realidade pela falta de oferta de produtos.
A necessidade do controle do avanço da obesidade infantil é fundamental, segundo a endocrinologista, na prevenção do diabetes tipo 2 (diagnosticado, cada vez mais em pessoas mais jovens), hipertensão e doenças cardiovasculares. A obesidade infantil aumenta significativamente o risco de eventos cardiovasculares em idade precoce.
A prevenção da obesidade infantil, como explicou a especialista, precisa começar na gestação com o controle de peso da gestante e continuar com o parto normal e aleitamento materno e prosseguir na infância, oferecendo à criança alimentação saudável que significa a prioridade dos alimentos “in natura”, em menor quantidade alimentos minimamente processados e processados, além de evitar os alimentos ultra processados. Há estudos mostrando que até 30% de mães oferecem refrigerantes na mamadeira a crianças com menos de dois anos, atitude que a especialista define como “um absurdo”
Outro aspecto da obesidade que precisa ser evitado – pontuou a Renata Lago – é aceitar e elogiar a obesidade nos bebês, identificados como fofinhos. As crianças que seguem obesas passam a ter problemas emocionais na adolescência, quando enfrentam o bullying. Vem a timidez e problemas psicológicos que podem levar até ao suicídio. Do ponto de vista físico, surgem as doenças cardiovasculares e também alterações ósseas.
Por todos os problemas que a obesidade infantil representa, comprometendo a saúde na vida adulta, Renata Lago chama a atenção para a importância do envolvimento da família e da sociedade, pela busca da alimentação saudável e o combate ao sedentarismo.
(Fonte: Ascom Cedab)